A Noviça e o Vampiro:

03/04/2015 12:54

O Resgate




Por Lena Lopez:

 



Os sonhos se tornaram constantes, em cada um deles ela sonha com o resgate do seu amado. As vezes sonhava que estava conseguindo o seu intento, outras parecia que ele era distante. Por vezes se via em meio as trevas, mas ao mesmo tempo, ela possuía uma luminosidade que lhe clareava o caminho. Seres estranhos tentavam alcança-la, mas não conseguiam se aproximar, a luz lhes causavam horror. Ouvia gritos de desespero, gemidos de angústia, apesar de se encontrar em um local de desespero, sentia-se bem e sabia que aquela luz que dela saia, era capaz de dar calor aquelas criaturas. Os sonhos se repetiam um após o outro. Renée despertou, olhou em volta, tudo estava diferente, não foi capaz de reconhecer onde estava. Por algum tempo sentiu os pensamentos embaralhados, mas sentia-se leve. Parecia que o pesos dos anos haviam desaparecido do seu velho corpo. Olhou as paredes brancas, a luminosidade que vinha da janela lhe ofuscava os olhos. Cerrou os olhos com força, tentou lembrar-se de algo, foi em vão. Levou as mãos ao rosto, esfregou os globos oculares, tentando eliminar os efeitos daquela luz clara. Levantou da cama e dirigiu-se para a janela. Viu um jardim florido, o Sol estava de uma forma como nunca tinha visto, tinha um luminosidade, mas ela não cegava os olhos, era quente, mas não queimava. Definitivamente ela pensou: -  Algo aconteceu e fui levada para algum lugar, um hospital talvez!


A porta do quarto abriu-se:


- Madre? -  surpreendeu-se Renée - como...


- Temos muito o que conversar minha querida, mas descanse primeiro!


- O que aconteceu, como vim parar aqui?


- A sua hora chegou e a trouxemos para cá!


- Estou confusa... Não entendo!


- É natural, depois que nos separamos do corpo, abate-se um torpor sobre nós, alguns podem ficar assim durante anos, outros alguns dias ou apenas algumas horas, depende de cada um.


- Eu tive sonhos, eram trevas e desespero!


- Quando estamos assim, somos guiados pela nossa mente, não são sonhos comuns, mas reflexos da vida que tivemos, dos nossos objetivos e pensamentos.


- Sim Madre, eu entendo, morri! Mas onde estou? No céu? Mas onde estão os anjos, as nuvens e as harpas? Aqui é tudo igual, quarto, cama, jardim, Sol, até copo de água ao lado da cama!


- Esse é um céu que não existe, idealizado pelo homem. Se queres que aqui seja o céu, pode assim chama-lo. O que importa é que estás no lugar onde deverias estar. A Terra é apenas um cópia mal-feita daqui! Aqui temos tudo o que temos lá, mas cercados de paz e amor, sem egoismo, orgulho e avareza. Temos conforme as nossas necessidades e somente do tamanho delas, nada a mais do que isso. Agora, descanse, teremos muito o que fazer.


A Madre deixou o pequeno quarto, Renée sentou-se na cama, esticou o braço, pegou o copo sobre o criado-mudo e tomou toda a água. Sentiu sono novamente, deitou-se e adormeceu.


Todos os dias a Madre a visitava e explicava-lhe o que estava lhe acontecendo. Aos poucos ela passou a entender e logo pode deixar o quarto. Encontrou outras pessoas, alguns eram-lhe conhecidos. Ficou sabendo que vivia em um lugar para onde eram levados por suas obras na Terra haviam merecido e que ali teria muito a aprender. Durante o tempo todo que esteve naquele lugar, a Madre encarregou-se de instruí-la. Aprendeu a usar o seu amor para o benefício de todos e a cada dia sentia-se mais forte.


- Hoje passarás por uma prova! Disse-lhe a Madre.


- Eu já pressentia Madre, sinto-me forte e preparada.


- Vais ajudar em um resgate e se vencer as tuas limitações, estarás preparada para a tua missão!


- Eu não falharei!


- Se falhar, estarás perdida nas trevas. Não poderás vacilar, precisarás vencer os teus medos e em em nenhum momento duvidar do que acreditas. Saiba que verás sofrimento de muitos, horror, pavor, criaturas perdidas em sua mentes maléficas, mas somente um arrependido será resgatado. Vamos, às trevas!


Caminharam longas horas, a cada passo da diminuta caravana, as sombras aumentavam, até que um breu se instalou sobre eles. à frente deles ia um senhor idoso e a unica luz que restava era a luminosidade dos que faziam parte da caravana. As criaturas das trevas ao verem as luzes, escondiam-se e do seu esconderijo dirigiam-lhes ameaças, zombavam e diziam-lhes para se afastarem. Outras pediam por ajuda e recebiam a luz pra que fosse confortados, mas logo que se sentiam melhores, voltavam a ameaçar. Alguns bradavam por socorro, tentavam segurar-lhes as vestes, mas não conseguiam.


O Senhor idoso parou em freta a uma furna e gritou para o interior:


- Ramon, Ramon!


- Vá embora! - bradou alguém do interior da furna.


- Ramon, saia, vamos levá-lo!


- Quem és tu, para me ordenar, pensas que não sei o que queres. Quantas vezes estiveste por aqui me apavorando!


O velho sem outra opção entrou na pequena caverna.


- Louvado Seja, um Anjo, um Anjo!


- Venha comigo Ramon!


O velho saiu e trouxe Ramon com ele. Outros que estavam na caravana, correram ao encontro dos dois. Deram-lhe água, ele acalmou-se e adormeceu.


A caravana retomou o caminho de volta, com a missão cumprida em mais um dos tantos resgates.


- Renée, estás preparada para a tua missão, já podes liderar o resgate, temos que prepará-lo.


- Bem sabes Madre, o quanto eu esperei este dia chegar.


Longos dias passaram para os preparativos, os integrantes da caravana foram escolhidos entre os mais experientes e finalmente o dia chegou.


- Hoje vamos às trevas, mas um lugar mais longínquo, entraremos no Vale e os perigos serão bem maiores! Disse a Madre.


- Vamos, tenhamos amor e fé, tudo sairá como planejado. Retrucou Renée.


- Antes que partamos - falou novamente a Madre - sabes que não poderás juntar-se a ele depois do resgate?


- Sei minha Amada Tutora, ele será levado e preparado para voltar à Terra, ele necessita de um corpo, para esquecer e recondicionar a sua mente maligna.


- Sabes também que deverás voltar e encontrá-lo na Terra?


- Estou certa e confiante, cumprirei a minha missão. Sei que o amor que sinto por ele, não poderei exercê-lo aqui e o lugar é a Terra. Serão mais de vinte anos na espera, mas nos reencontraremos e daremos um fim ao sofrimento.


- Nós o resgataremos, ele verá somente a ti, nenhum de nós ele poderá ver, tamanho é a cristalização da sua mente. Teu reencontro com ele não será maior que apenas poucos momentos, mas bastará para que ele vislumbre um pouco de paz e nos deixe trazê-lo. O resgate deve-se ao amor que sentes por ele. O traremos inconsciente e será levado para longe de ti, até que esteja preparado para o reencontro definitivo.


A caravana partiu, todas as dificuldades do caminho de trevas se repetiram, a longa estrada escura trazia muitos perigos e qualquer falta de fé, poderia por tudo a perder. As sombras aumentavam, adentraram por pântanos, sofrimento de todos os lados, viram criaturas indescritíveis e pavorosas, cristalizadas no tempo e no espaço, verdadeiros zumbis. Sujeira, frio, névoa e sequer um raio de sol era capaz de vencer aquela escuridão.


- Antoine, Antoine Nester! - Gritou Renée.


- Quem é, quem me chama? Quanto tempo eu não ouço uma voz!


- Sou eu Antoine, saia do escuro, não tenha medo!


- Essa voz, quem és?


- Lord Nester, ouça-me e saia da escuridão! Disse Renée com imposição!


A criatura maligna se aproximou, a luz de Renée feria-lhe os olhos e ele não conseguia a identificar.


- Venha Antoine...


- Juliet, finalmente voltaste pra mim, agora poderei tê-la pra sempre!


Renée estendeu-lhe a mão.


- Venha meu querido, trago-lhe um pouco de paz!


- Não quero paz, quero Juliet...


- Então venha e não tenha medo, segure a minha mão!


Ele segurou a mão de Renée e da escuridão, saiu uma criatura horrível, ulcerosa, suja e totalmente louca, presa nas memórias do seu passado. Ele passou a mão em sua fronte, como um anestésico, o calor que dela emanava fez-lhe cair em sono profundo. A caravana retornou, trazendo com ela o Lord insano e adormecido.


- A primeira parte de tua missão foi cumprida - disse a Madre - agora vá minha filha, prepare-se para o retorno e o reencontro, nossos amigos te esperam. Não mais existirá sofrimento e o vampiro hoje morreu para sempre, pois a partir de agora um homem novo, ele será!


O Sol iluminava o entardecer no Algarve, o oceano acariciava as pedras com suas ondas e espumas. Lucia olhava o horizonte e admirava a vastidão daquele mar. Estava escurecendo, a noite já se anunciava e ela pensava na sua vida, nos vinte e dois anos que havia vivido. Todo este tempo ela sentia uma saudade, não sabia como, não sabia por que e nem mesmo de quem. Seus olhos encheram-se de lágrimas, lembrou do seu fascínio por coisas antigas. A Idade Média causava-lhe um interesse enorme e deixava-lhe um sentimento que lhe parecia vivo na alma.


- Tás a pensar rapariga?


Sem olhar para trás ela respondeu:


- Sim, estava aos pensamentos!


Ele virou-se e olhou nos olhos do homem de vinte e poucos anos e soube então, que estava na frente do amor da sua vida!


 


 


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